Para compreendermos a origem
do Código Braille, devemos nos reportar à vida de um brilhante jovem francês
nascido no início do século XIX. Louis Braille vivia em Coupvray, um pequeno
distrito localizado à cerca de 45 quilômetros da cidade de Paris. Quando tinha
apenas três anos de idade, Louis sofreu um grave acidente quando manejava uma
das ferramentas da oficina de seu pai. Por fim, o jovem Braille acabou perdendo
a visão dos dois olhos.
Apesar da infeliz limitação,
os pais de Braille decidiram mandá-lo para escola junto das outras crianças.
Incapaz de enxergar e escrever, Braille desenvolveu a incrível capacidade de
memorizar todas as lições repassadas por seus mestres. Graças ao seu notório
desempenho escolar, acabou conseguindo ingressar em uma instituição de ensino
para cegos administrada por Valentin Haüy. As possibilidades de aprimoramento
intelectual de Braille pareciam cada vez mais viáveis.
Nessa escola, os textos eram
adaptados de forma que as letras eram impressas em alto relevo. Apesar de
funcional, o método exigia a confecção de livros pesados e grandes. Além disso,
o tempo gasto para a leitura de qualquer material era bastante extenso. Em
razão dessas dificuldades, o instituto de Valentin sempre estava à procura de
novos métodos que pudessem facilitar a vida e o acesso à informação dos
deficientes visuais.
Sob tal contexto, o capitão
de artilharia Charles Barbier de la Serre apresentou um método conhecido como
“sonografia” ou “escrita noturna”. Nesse novo sistema, o usuário utilizava um
código feito em pontos que poderia ser lido com a ponta dos dedos. Apesar de
oferecer várias facilidades, o código apresentado por Barbier apresentava dois
sérios problemas: era complexo demais para ser memorizado e os símbolos usados
não permitiam a soletração das palavras.
Nesse meio tempo, Braille
conheceu a jovem Teresa von Paradise, que lhe apresentou o mundo da música. Por
meio dos esforços de Teresa, que também era cega, foi idealizado um aparelho
que permitia a leitura e a composição de partituras para piano. Interessado por
essa novidade, Braille se tornou organista, violoncelista e, logo em seguida,
foi aceito como músico na Igreja Santa Ana de Paris. Sua incrível habilidade
musical lhe concedeu apresentações nas mais famosas casas de concerto da cidade.
Em um desses concertos,
Braille acabou conhecendo Alphonse Thibaud, conselheiro comercial do Estado
francês. Durante uma conversa informal, Thibaud perguntou ao jovem músico se
ele não estaria disposto a criar um método que permitisse os cegos lerem e
escreverem. Após refutar tal proposta, pensando que isso só poderia ser feito
por alguém que enxergasse, Braille passou a se empolgar com esse projeto
desafiador.
Após três anos de pesquisa e
experimentos, Louis Braille estabeleceu um novo sistema de escrita e leitura
para cegos. No ano de 1829, publicou esse novo código no livro “Processo para
escrever as palavras, a música e o canto-chão, por meio de pontos, para uso dos
cegos e dispostos para eles”. Em 1852, Braille faleceu sem ter a oportunidade de
ver seu trabalho amplamente reconhecido.
O código Braille é composto
por uma combinação de pontos dispostos em uma célula de três linhas e duas
colunas. Por meio da combinação destes símbolos, o deficiente visual pode
realizar a leitura e a escrita de qualquer tipo de texto. Em situações mais
simples, o texto em Braille pode ser produzido com a utilização de uma régua
especial e um estilete que registra os pontos em uma base que marca os lugares
marcados.
Atualmente, existem máquinas
de escrever adaptadas para a confecção de textos em Braille e computadores que
conseguem transformar um simples comando de voz em um texto adaptado a esse
mesmo código. Sem dúvida, o sistema Braille abriu um campo de possibilidades
que irrompe com as limitações impostas pelo corpo. Mesmo sem a visão do mundo
material, os cegos podem produzir conhecimento, realizar projetos e,
principalmente, sentir o mundo à sua maneira.
Por Rainer Sousa
Nenhum comentário:
Postar um comentário