
Em
2002, o mecânico da cidade mineira de Uberaba, que fica a 475 km da capital
Belo Horizonte, teve o seu próprio momento de 'eureka' quando encontrou a
solução para iluminar a própria casa num dia de corte de energia.
Para
isso, ele utilizou nada mais do que garrafas plásticas pet com água e uma
pequena quantidade de cloro.
Nos
últimos dois anos, sua ideia já alcançou diversas partes do mundo e deve
atingir a marca de 1 milhão de casas utilizando a 'luz engarrafada'
.
Mas
afinal, como a invenção funciona? A reposta é simples: pela refração da luz do
sol numa garrafa de dois litros cheia d'água.
"Adicione
duas tampas de cloro à água da garrafa para evitar que ela se torne verde (por
causa da proliferação de algas). Quanto mais limpa a garrafa, melhor",
explica Moser.
Moser
protege o nariz e a boca com um pedaço de pano antes de fazer o buraco na telha
com uma furadeira. De cima para baixo, ele então encaixa a garrafa cheia
d'água.
"Você
deve prender as garrafas com cola de resina para evitar vazamentos. Mesmo se
chover, o telhado nunca vaza, nem uma gota", diz o inventor.
Outro
detalhe é que a lâmpada funciona melhor se a tampa for encapada com fita preta.
A ideia de Moser já é utilizada em mais de 15 países
onde energia é escassa
"Um
engenheiro veio e mediu a luz. Isso depende de quão forte é o sol, mas é entre
40 e 60 watts", afirma Moser.
A
inspiração para a "lâmpada de Moser" veio durante um período de
frequentes apagões de energia que o país enfrentou em 2002. "O único lugar
que tinha energia eram as fábricas, não as casas das pessoas", relembra.
Moser
e seus amigos começaram a imaginar como fariam um sinal de alarme, no caso de
uma emergência, caso não tivessem fósforos.
O
chefe do inventor sugeriu na época utilizar uma garrafa de plástico cheia de
água como lente para refletir a luz do sol em um monte de mato seco e assim
provocar fogo.
A
ideia ficou na mente de Moser que então começou a experimentar encher garrafas
para fazer pequenos círculos de luz refletida.
Não
demorou muito para que ele tivesse a ideia da lâmpada.
"Eu
nunca fiz desenho algum da ideia".
"Essa
é uma luz divina. Deus deu o sol para todos e luz para todos. Qualquer pessoa
que usar essa luz economiza dinheiro. Você não leva choque e essa luz não lhe
custa nem um centavo", ressalta Moser.
Pelo mundo
O
inventor já instalou as garrafas de luz na casa de vizinhos e até no
supermercado do bairro.
Ainda
que ele ganhe apenas alguns reais instalando as lâmpadas, é possível ver pela
casa simples e pelo carro modelo 1974 que a invenção não o deixou rico. Apesar
disso, Moser aparenta ter orgulho da própria ideia.
"Uma
pessoa que eu conheço instalou as lâmpadas em casa e dentro de um mês
economizou dinheiro suficiente para comprar itens essenciais para o filho que
tinha acabado de nascer. Você pode imaginar?", comemora Moser.
Carmelinda,
a esposa de Moser por 35 anos, diz que o marido sempre foi muito bom para fazer
coisas em casa, até mesmo para construir camas e mesas de madeira de qualidade.
Mas
parece que ela não é a única que admira o marido inventor.
Illac
Angelo Diaz, diretor executivo da fundação de caridade MyShelter, nas
Filipinas, parece ser outro fã.
A
instituição MyShelter se especializou em construção alternativa, criando casas
sustentáveis feitas de material reciclado, como bambu, pneus e papel.
Para
levar à frente um dos projetos do MyShelter, com casas feitas totalmente com
material reciclado, Diaz disse ter recebido "quantidades enormes de
garrafas".
"Nós
enchemos as garrafas com barro para criamos as paredes. Depois enchemos
garrafas com água para fazermos as janelas", conta.
"Quando
estávamos pensando em mais coisas para o projeto, alguém disse: 'Olha, alguém
fez isso no Brasil. Alfredo Moser está colocando garrafas nos telhados'",
relembra Diaz.
Seguindo
o método de Moser, a entidade MyShelter começou a fazer lâmpadas em junho de
2011. A entidade agora treina pessoas para fazer e instalar as garrafas e assim
ganharem uma pequena renda.
Nas
Filipinas, onde um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza (de
acordo com a ONU, com menos de US$ 1 por dia) e a eletricidade é muito cara, a
ideia deu tão certo, que as lâmpadas de Moser foram instaladas em 140 mil
casas.
As
luzes 'engarrafadas' também chegaram a outros 15 países, dentre eles Índia,
Bangladesh, Tanzânia, Argentina e Fiji.
Diaz
disse que atualmente pode-se encontrar as lâmadas de Moser e comunidades
vivendo em ilhas remotas. "Eles afirmam que eles viram isso (a lâmpada) na
casa do vizinho e gostaram da idéia".
Pessoas
em áreas pobres também são capazes de produzir alimentos em pequenas hortas
hidropônicas, utilizando a luz das garrafas para favorecer o crescimento das
plantas.
Diaz
estima que pelo menos um milhão de pessoas irão se beneficiar da ideia até o
começo do próximo ano.
"Alfredo
Moser mudou a vida de um enorme número de pessoas, acredito que para
sempre", enfatiza o representante do MyShelter.
"Ganhando
ou não o prêmio Nobel, nós queremos que ele saiba que um grande número de
pessoas admiram o que ele está fazendo".
Mas
será que Moser imagina que sua invenção ganharia tamanho impacto?
"Eu
nunca imaginei isso, não", diz Moser emocionado.
"Me
dá um calafrio no estômago só de pensar nisso".
Gibby Zobel - De Uberaba para o serviço mundial da BBC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário