Discurso do publicitário Nizan Guanaes como paraninfo
de uma turma de formandos.
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Nizan Guanaes é Publicitário, Sócio Proprietário da Agência África |
Dizem que
conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou
tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns.
Portanto, apesar
da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão
alguns, que julgo valiosos.
Não paute sua
vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração.
Persiga
fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como
conseqüência.
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande
bandido, nem um grande canalha.
Napoleão não
invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por
dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por
dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são
incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na
alma.
A propósito
disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma
freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O
milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria
isso por dinheiro nenhum no mundo." E ela responde: "Eu também não,
meu filho".
Não estou
fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas
que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo
conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a
melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a
maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda
de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem
como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega viver
como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Que era
ficção, mas hoje é realidade, na pessoa de Geraldo Bulhões, Denilma e
Rosângela, sua concubina.
Meu terceiro
conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno
que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia:
seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro
à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio.
Porque já vi
grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém
narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo.
Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando,
a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada
homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si
uma revolução. Que é mais do
que sexo ou dinheiro. Você foi criado, para construir pirâmides e versos,
descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações
na mão e uma caixa de possibilidades na outra.
Não use Rider,
não dê férias a seus pés. Não sente-se e passe a ser analista da vida alheia,
espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a
dizer: eu não disse!, eu sabia! Toda família tem um tio batalhador e bem de
vida. E, durante o almoço de domingo, tem que aguentar aquele outro tio muito
inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas
não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas
fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não
sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a
pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.
Eu digo:
trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso.
Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e
constrói prodígios. O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em
tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles
trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos,
a 2ª maior megapotência do planeta. Enquanto nós, os espertos, construímos uma
das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos
de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar
enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo
bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo
o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe
leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se
chama sucesso.